SUMÁRIO
ToggleEu me senti profundamente instigado ao conhecer a descoberta de erupções quase periódicas (QPEs) em um buraco negro supermassivo que, até recentemente, permanecia adormecido.
Afinal, observar em tempo real o “acender” de um núcleo galáctico ativo representa um salto qualitativo no estudo de objetos cósmicos extremos.
Além disso, essa transição de um estado adormecido para uma fase altamente energética em SDSS1335+0728, a cerca de 300 milhões de anos‑luz de distância, desafia modelos clássicos de acreção e abre caminho para novas investigações sobre a física de buracos negros.
Em seguida, apresento uma análise detalhada dos conceitos, das observações e das hipóteses que cercam o fenômeno, apoiado em evidências científicas publicadas em periódicos de prestígio.
O que são erupções quase periódicas?

Conceito e Origem
As erupções quase periódicas são rajadas recorrentes de raios X que emanam do entorno de buracos negros supermassivos em núcleos galácticos, ocorrendo em intervalos quase regulares, de horas a dias.
A princípio, acredita‑se que esses flashes sejam gerados pela interação entre o disco de acreção — o fluxo de matéria orbitando o buraco negro — e um objeto celeste compacto, como uma estrela densa ou um buraco negro menor, provocando choques energéticos que se manifestam em emissões de alta energia.
Características Principais das QPEs (H3)
- Intervalo quase regular: varia de algumas horas até vários dias, sendo cerca de 4,5 dias em Ansky.
- Duração prolongada: as erupções de Ansky duram até dez vezes mais que as QPEs clássicas.
- Alta luminosidade: liberam cem vezes mais energia do que erupções anteriores registradas.
- Superperíodo: ciclo adicional de aproximadamente 25 dias, indicando padrões de variabilidade complexos.
Essas propriedades extremas diferenciam Ansky de outros eruptores conhecidos, levando cientistas a questionar modelos vigentes.
O despertar do buraco negro Ansky em SDSS1335+0728
Histórico de Observações
Em dezembro de 2019, astrônomos notaram um aumento súbito no brilho óptico da galáxia SDSS1335+0728, despertando interesse em seu núcleo antes considerado inativo.
Posteriormente, análises de dados de arquivo do telescópio eROSITA e observações iniciais com o Swift não revelaram emissões de raios X significativas.
No entanto, a partir de fevereiro de 2024, o time liderado por Lorena Hernández‑García, da Universidade de Valparaíso, Chile, começou a detectar rajadas de raios X a cada 4,5 dias, confirmando o fenômeno de erupções quase periódicas e classificando o núcleo como ativo, sob o apelido de Ansky.
Propriedades do Buraco Negro Ansky
- Massa estimada: ~10⁶ M☉, típica de núcleos galácticos ativos emergentes.
- Distância: aproximadamente 300 milhões de anos‑luz (Constelação de Virgem).
- Luminosidade de pico: centenas de vezes maior que QPEs anteriores.
- Cadência de erupções: ~4,5 dias, com superperíodo de ~25 dias.
Esses dados reforçam a singularidade de Ansky e o valor de seu monitoramento contínuo.
Instrumentação e Métodos de Observação

Para capturar as erupções quase periódicas, pesquisadores empregaram uma rede de telescópios de raios X espaciais.
Em particular, o XMM‑Newton forneceu sensibilidade para medir a emissão de fundo entre os flashes, enquanto o NICER, o Chandra e o Swift ofereceram cobertura de alta resolução temporal e espectral.
Além disso, a análise de arquivos do eROSITA permitiu rastrear a fase inicial do despertar óptico em 2019. Essa combinação de instrumentos foi crucial para quantificar a energia liberada em cada erupção e para modelar o comportamento do disco de acreção em tempo real.
O que pode estar causando as erupções de Ansky?
Interação com Objeto Compacto
O modelo clássico postula que um objeto compacto, seja uma estrela densa ou um buraco negro menor, cruza o disco de acreção, gerando ondas de choque que resultam em rajadas de raios X.
Estudos semi-analíticos em sistemas de extrema razão de massa (EMRIs) demonstram que impactos repetidos podem explicar variações de luminosidade e intervalos de erupções em fontes como GSN 069, servindo de base para entender Ansky.
Formação de Disco por Gás Capturado
Uma hipótese alternativa sugere que o disco de acreção de Ansky não provém da destruição de uma estrela, mas sim da captura de gás interestelar pela gravidade do buraco negro.
Nesse cenário, choques internos no disco, provocados por pequenas perturbações, geram as erupções quase periódicas sem necessidade de um corpo externo distinto.
Outras Possibilidades Teóricas
Ademais, instabilidades magnéticas no disco ou oscilações de pressão podem produzir flutuações cíclicas de emissões de raios X, apontando para mecanismos internos de geração de QPEs.
Embora ainda incipientes, esses modelos oferecem alternativas à interação com objetos externos e merecem investigação aprofundada.
Implicações Científicas e Perspectivas Futuras

Ansky pode ser a chave para uma nova era da astrofísica observacional.
Observar Ansky despertando em tempo real representa um divisor de águas para a astrofísica de núcleos galácticos ativos (AGN).
Primeiramente, podemos validar e refinar teorias de acreção e dinâmica de discos ao confrontar modelos com dados empíricos de alta qualidade.
Além disso, as erupções cíclicas de Ansky são candidatas a gerarem ondas gravitacionais detectáveis pela missão LISA da ESA, inaugurando uma era de estudos multi-mensageiro para QPEs.
Finalmente, o monitoramento contínuo desses eventos pode revelar transições adicionais, enriquecendo nosso entendimento sobre a evolução de buracos negros supermassivos.
Provas Científicas
Vários estudos recentes confirmam as características únicas das erupções quase periódicas em SDSS1335+0728, oferecendo evidências robustas:
- ScienceDaily (2025): reportagem original no ScienceDaily detalha a descoberta do despertar do buraco negro Ansky em SDSS1335+0728 com erupções quase periódicas.
- Hernández-García et al. (2025) realizaram uma análise espectral e temporal com os observatórios XMM-Newton, NICER, Chandra e Swift, identificando QPEs com período de ~4,5 dias e superperíodo de ~25 dias, além de energias integradas inéditas em núcleos galácticos ativos.
- Sánchez-Sáez et al. (2024) apresentaram um estudo multi-comprimento de onda utilizando dados do Zwicky Transient Facility (ZTF), Swift/UVOT, VLT/X-shooter e Keck/LRIS, demonstrando aumento significativo de fluxos UV e infravermelho, bem como caracterização espectroscópica do núcleo ativado, reforçando a hipótese de ativação de AGN em tempo real.
- Carta de arXiv (2504.07169) detalha fluxos de UV de baixa significância pela primeira vez em um hospedeiro de QPE e amplia os possíveis canais de formação de erupções, sugerindo que fluxos de acreção recém-formados, e não apenas eventos de ruptura de maré, podem gerar QPEs.
Essas provas científicas fornecem embasamento sólido para as discussões apresentadas nas seções anteriores, validando modelos teóricos de interação em discos de acreção e ampliando nosso entendimento sobre a ativação de núcleos galácticos.
Perguntas Frequentes
O que caracteriza uma erupção quase periódica?
São rajadas de raios X recorrentes em intervalos quase regulares, causadas pela interação entre o disco de acreção e perturbações no entorno do buraco negro.
Por que Ansky despertou após décadas de inatividade?
A ativação em SDSS1335+0728 pode ter sido desencadeada pela formação de um novo disco de acreção a partir de gás interestelar, e não pela destruição de uma estrela.
Quais instrumentos são usados para detectar QPEs?
XMM‑Newton, NICER, Chandra, Swift e o eROSITA são os principais telescópios que monitoram emissões de raios X em núcleos galácticos.
Qual a relevância de um superperíodo em QPEs?
O superperíodo (~25 dias em Ansky) indica padrões de variabilidade adicionais no disco, sugerindo processos cíclicos de maior escala.
Como as futuras missões podem complementar esses estudos?
Missões de ondas gravitacionais, como LISA, podem detectar sinais associados às QPEs, fornecendo dados complementares aos observados em raios X.
Conclusão
Em suma, o despertar do buraco negro Ansky em SDSS1335+0728 e suas erupções quase periódicas representam um marco na compreensão de núcleos galácticos ativos.
Portanto, ao acompanhar esses fenômenos em tempo real, nós ampliamos significativamente nosso conhecimento sobre a física de discos de acreção e os processos energéticos que regem buracos negros supermassivos.
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